Asiáticos dominam energia

Renata Misoczki
Correio Braziliense
30/06/2018

O leilão de transmissão, considerado um sucesso pelo governo, com desconto médio de 55% na Receita Anual Permitida, concentrou ainda mais os ativos de energia do Brasil na mão dos investidores asiáticos. No certame do ano passado, grupos chineses e indianos disputaram os melhores lotes. Neste ano, a indiana Sterlite apostou alto e arrematou mais seis lotes. A CPFL, que hoje tem 54% do capital nas mãos da chinesa State Grid, também levou um linhão.
Para o especialista em energia, Rodrigo Leite, sócio do Leite Roston Advogados, os indianos levaram o maior lote no ano passado. “Agora vieram com tudo. Ninguém esperava que a participação fosse tão relevante”, ele disse. Segundo ele, o grupo tem um histórico na Índia de antecipar as obras. “É uma empresa muito eficiente, sobretudo no nível tecnológico”, avaliou. “Como o setor é estratégico, há uma preocupação com a presença de tantos estrangeiros. Mas não são aventureiros. As empresas estão presentes no mundo inteiro e o setor elétrico tem regulação mais ampla. Há mecanismos de proteção”, acrescentou.
O que surpreendeu Renata Misoczki, advogada especialista na área do escritório Souto Correa, foi o valor oferecido pelos lotes, com descontos bem expressivos considerando a capacidade dos grupos. “Isso mostra o grande interesse de expandir as operações no Brasil. Mas não tenho preocupação com o aporte asiático. Há critérios de acompanhamento de implementação das linhas, fiscalização e penalidades rigorosas. A chance de dar uma coisa errada é muito pequena”, opinou.
Segundo ela, há previsão de um novo leilão de transmissão no segundo semestre, com mais de 30 lotes. “A Sterlite pode voltar a investir. E os chineses devem estar se segurando para disputar o próximo leilão de forma mais agressiva.”
O presidente da InterB Consultoria, Claudio Frischtak, considerou o leilão “nota 10”. O especialista não teme a “invasão” dos asiáticos. “Eu não me preocuparia em ter estrangeiros sendo concessionários por tempo determinado. Eles estão vindo com recursos, estão tomando o risco do Brasil. E, pelo menos em transmissão, temos um sistema consolidado, com regime regulatório estável”, destacou.

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