Goethe, Freud e empresas familiares
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O planejamento da sucessão em empresas familiares suscita dilemas variados, que muitas vezes extrapolam os limites jurídicos. As variantes, não raro, invadem o campo da emocionalidade, de característica substancialmente subjetiva. A solução exige diálogo entre as disciplinas, por questão de habilidade e competência.
Aliás, o tema acompanha a nossa rotina, pois quem percorre as ruas de Porto Alegre encontra nas redondezas do bairro Moinhos de Vento a frase de Johann Goethe que diz: “Aquilo que herdaste de teus pais, conquista-o para fazê-lo teu”. Verdade seja dita, o processo sucessório não se desenvolve somente em conjecturas lançadas em folhas de papel.
A linha de raciocínio não desconsidera a importância da governança corporativa. Muito pelo contrário: o planejamento deve ser composto de ações orquestradas, todas envidando esforços para a longevidade da companhia, adotando estratégias para evitar dissabores. Além disso, afora a preocupação com os pilares da inovação e agilidade, as empresas familiares devem atentar para a estratégia de pessoas.
Não é à toa que os números revelam um cenário pessimista, porquanto indicam um percentual reduzido de empresas familiares que chegam à terceira geração. As causas são diversas, mas não insuperáveis. De todo modo, é forçoso reconhecer que não se pode agasalhar a repetição dos mesmos desacertos, configurando um fenômeno de representação crônica transgeracional. Em Totem e Tabu, por exemplo, Sigmund Freud relata as dificuldades do indivíduo na elaboração do senso de apropriação dos seus desejos, alertando sutilezas envolvidas na temática sucessória.
As empresas familiares, além de formatar soluções jurídicas, devem lançar luzes sobre as vocações e desejos pessoais, de modo a prestigiar o fomento de uma cultura capaz de combinar crescimento exponencial e valores próprios. Enfim, é de rigor ter em mente a necessidade de promover a conexão das gerações, identificando mazelas e mitigando os riscos de eventuais percalços.
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