Amós Oz, maior autor israelense vivo, proferiu palestra nesta quarta-feira (28/06) no Fronteiras do Pensamento

Jornal Zero Hora
Fronteiras do Pensamento

Ardente defensor do entendimento no Oriente Médio, escritor discutirá fanatismo e literatura

Amós Oz é considerado um dos maiores autores israelenses vivos. Ao longo de meio século de atividade literária, intercalou algumas das mais instigantes histórias humanas com o pano de fundo político e social da existência de Israel. Uma de suas obras-primas, A Caixa Preta (1987), parte de um triângulo amoroso no centro de uma família disfuncional para refletir sobre as guerras de Israel, a experiência socialista dos kibutz, as problemáticas relações entre árabes e judeus na Terra Santa. E esse é apenas um exemplo de como política e literatura se imbricam na obra de um autor que faz de seu tempo matéria-prima.

Oz estará neta quarta-feira no Salão de Atos da UFRGS como convidado do ciclo de palestras Fronteiras do Pensamento. Na pauta de sua conferência, estão sua literatura e suas visões políticas, elementos paralelos mas inseparáveis na trajetória do autor, que está lançando um novo livro no Brasil – a coletânea de ensaios Mais de uma Luz, em que discute a possibilidade de tolerância, a psicologia de um fanático, o papel do judaísmo não como religião, mas como uma identidade cultural, e a política internacional para a região.

Cocriador do movimento Paz Agora, Oz há anos conclama ao entendimento entre árabes e israelenses, entre a maioria de árabes e israelenses não contamidados pelo fanatismo ruidoso que domina as discussões. Oz é um advogado da solução binacional, com o território dividido entre duas nações soberanas: Israel e Palestina. Sua crítica feroz à política de Benjamin Netanhyahu já o fez ser chamado de “traidor” dentro de seu próprio país. Oz respondeu como sempre, com literatura, escrevendo um romance sobre a figura arquetípica do traidor na cultura ocidental – e o estopim do antissemitismo histórico – Judas.

Novo livro expande tópicos do anterior

Mais de uma Luz é, ao mesmo tempo, uma continuação e uma expansão do bem-sucedido Como Curar um Fanático, lançado em 2016. Oz argumenta que a ascensão dos fanatismos é geral na contemporaneidade, e não exclusividade do ruidoso extremismo islâmico. Parte do apelo do texto está no fato de que, apesar de apresentar uma crítica contundente do fenômeno, Oz não deixa de abrir sua imaginação aos motivos profundos que orientam as ações de um fanático – ideia distorcida que, na origem, poderia até ser confundida com altruísmo.

“Fanáticos religiosos e fanáticos ideológicos de todos os tipos cometem atos criminosos de terrível violência não só porque abominam os hereges, ou o Ocidente, ou os muçulmanos, ou os esquerdistas, ou os sionistas, ou os LGBTs. Eles são sanguinários sobretudo porque querem salvar o mundo imediatamente. Salvar até os hereges. Tirá-los dos abismos de sua heresia”.

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