Fraport arremata aeroporto Salgado Filho
Rômulo Mariani
Jornal do Comércio
17/03/2017
Com a chegada de um novo administrador, a expectativa é de que uma série de obras (previstas no contrato de concessão) sejam desencadeadas no aeroporto Salgado Filho, sendo a principal delas a expansão da pista de aterrisagem e decolagem em mais 920 metros (hoje, a estrutura possui 2.280 metros). O vencedor do leilão do complexo gaúcho, realizado nessa quinta-feira pelo governo federal, foi a Fraport AG Frankfurt Airport Services, da Alemanha.
O grupo irá pagar um total de R$ 382 milhões, montante 211% superior ao valor mínimo de outorga (R$ 123 milhões). Também foi atingido um ágio 835% superior ao previsto para o lance mínimo de oferta inicial (R$ 31 milhões). A grande diferença deve-se, em parte, pelo fato de terem sido feito oito lances pelo terminal de Porto Alegre, com a disputa entre a empresa alemã e o grupo Zurich. Com isso, detalha o advogado Rômulo Mariani, do escritório Souto Correa, a Fraport precisará pagar R$ 290 milhões de forma imediata e mais R$ 92 milhões ao longo da concessão.
A vice-presidente executiva sênior da Fraport, Aletta von Massenbach, explicou que o forte interesse em Porto Alegre está relacionado ao potencial da região como “centro de negócios”. Segundo ela, a análise econômica sobre as especificidades deste mercado fez com que a companhia olhasse essa concessão. Tanto no caso de Fortaleza como da capital gaúcha, Aletta salientou que a operadora conta com o crescimento das operações das companhias aéreas nos terminais, mas minimizou a importância de atração de empresas estrangeiras. “Se são internacionais ou não, não interessa, não faz diferença, isso é uma questão de que tipo de destinações vão servir, e o mercado de aviação é muito bom, então achamos que temos um número de players suficiente e com os quais podemos desenvolver”, comentou.
Sobre o empreendimento no Rio Grande do Sul, Mariani considerou o resultado como muito positivo, apesar de apenas duas companhias terem participado da concorrência pelo Salgado Filho (além da Fraport, o grupo suíço Zurich disputou o complexo). Mesmo que leilões anteriores tenham registrado maior procura, dessa vez, conforme o advogado, houve um ganho de qualidade.
Os certames foram encabeçados por grandes empresas, operadores com experiência no setor aeroportuário, em vez de empreiteiras. A Fraport dirige nove aeroportos pelo mundo, entre os quais os de Frankfurt e Hannover, na Alemanha; Jorge Chavez, de Lima, no Peru; e aeroportos na Eslovênia, Rússia, Turquia, China e Índia. Um ponto ressaltado por Mariani é que o grupo também arrematou o de Fortaleza, o que sinaliza a meta de manter atividade sólida no Brasil.
O advogado aponta como principal atrativo o valor mínimo de outorga (R$ 123 milhões), considerado baixo. “O governo fez uma avaliação conservadora como estratégia para o leilão dar certo.”
O prazo de concessão do aeroporto gaúcho é de 25 anos, podendo ser prorrogado uma única vez por cinco anos. A contrapartida em investimentos previstos é da ordem de R$ 1,9 bilhão.
Se não houver empecilhos, a convocação para celebração do contrato de concessão acontecerá em 28 de julho. Para Mariani, a maior dificuldade que o concessionário irá enfrentar quanto ao Salgado Filho é a questão fundiária para a ampliação da pista. Como eventuais desocupações para fazer a expansão poderão depender do Judiciário, isso aumenta o risco para o empreendedor, que será responsabilizado por atrasos na obra.
O consultor em aeroportos Fernando Bizarro também ficou satisfeito com o desfecho do leilão. O especialista reitera a experiência do grupo Fraport como um dos maiores ganhos para a administração do aeroporto gaúcho. Bizarro considera a ampliação da pista como uma obra fundamental e espera que não ocorram problemas com a retirada de alguma família para concretizar o empreendimento, já que a maior parte dessas realocações já foi feita. Sobre os rumores de que a consistência do terreno não seria a melhor para fazer a expansão, o consultor salienta que a pista atual foi construída na mesma área. Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a partir da validação do contrato, o prazo para realização da ampliação da pista é de 52 meses.
Apesar das expectativas de melhorias, Bizarro sustenta que nada impede de continuarem sendo analisadas alternativas de novos aeroportos na Região Metropolitana para atender a demandas futuras. O consultor prevê que, mesmo com as obras projetadas, o Salgado Filho deve ter sua capacidade esgotada por volta de 2050.