O futuro das cidades

Jornal Zero Hora

ARQUITÉTO E TEÓRICO JAN GEHL, DEFENSOR DE UM PLANEJAMENTO URBANO MAIS FOCADO NAS PESSOAS DO QUE EM VEÍCULOS, FAZ NA PRÓXIMA SEGUNDA A ÚLTIMA PALESTRA DO CICLO DE CONFERÊNCIAS FRONTEIRAS DO PENSAMENTO

Cheia de bicicletas, repleta de espaços verdes e com ótimo transporte público, Copenhague foi eleita, sem surpresas, a cidade mais habitável do mundo em setembro por uma publicação especializada. O surpreendente, talvez, seja saber que até o início da década de 1960 não era assim.
À frente do pensamento que mudou Copenhague estava um de seus moradores: o arquiteto Jan Gehl, que, desde 1971, quando lançou seu primeiro livro, Life Between Buildings (Vida entre prédios, em tradução livre), é o porta-voz de um urbanismo feito para as pessoas.
Mesmo com os bons resultados vindos de casa no portfólio, o dinamarquês viu prevalecer, nos últimos 50 anos, o modelo modernista, focado em prédios e carros, que tem em Brasília seu expoente máximo. Mas a falência desse modelo, que gerou cidades com congestionamentos gigantes e ruas sem vida, colocou seu discurso em evidência recentemente. Hoje com 80 anos e ainda muito ativo em espalhar suas ideias, Gehl vem a Porto Alegre para ministrar nesta segunda-feira a última conferência de 2016 do ciclo Fronteira s do Pensamento.
– O principal propósito do planejamento urbano tornou-se deixar os carros felizes. A ideia sobre a qual escreve que devemos acabar com essa abordagem tecnocrática e carrocentrista.
O novo paradigma é tornar as cidades habitáveis, sustentáveis e muito mais atrativas para estilos de vida mais saudáveis – afirmou Gehl em entrevista por telefone a ZH.
Segundo Éber Marzulo, professor do programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional da UFRGS, Gehl é importante porque traz para um público não acadêmico a cidade como local de encontro e convívio, superando a concepção funcional de local de produção, reprodução e circulação de pessoas e mercadorias. Além disso, reforça Marzulo, o dinamarquês atualiza para as novas gerações o pensamento de Jane Jacobs (1916- 2006),jornalista americana que, em 1961, propôs uma visão mais humanista à arquitetura em sua obra clássica Morte e Vida de grandes cidades – não à toa, uma das grandes influências de Gehl.
-Jacobs, em 1961,falava da calçada em vez da rua, enquanto, até hoje, o urbanismo, em especial no Brasil segue privilegiando as ruas como vias, construindo dutos e estacionamento em vez de ciclovias e calçadas – lamenta Marzu lo.
Com graduação e mestrado pela Academia Real de Belas Artes da Dinamarca, onde também lecionou por muitos anos, Gehl vê na popularização do seu último livro, Cidade para pessoas (2010), o crescente desejo por mudanças: – Em apenas cinco anos, (o livro) foi traduzido para 32 idiomas. O que é, para mim, um sinal de que há um enorme interesse em informações sobre como cuidar mais das pessoas no planejamento urbana.
Além de espalhar, como professor e em suas obras, a ideia de cidades mais humanas, o dinamarquês fundou, em 2000, a empresa de consultoria Gehl Architects, que executou projetos para metrópoles como San Francisco, Melboume, Sydney, Nova York, Moscou, Istambul, São Paulo e Rio. Atualmente aposentado da academia e longe da rotina do escritório, ele se dedica a dar palestras e faz questão de comparecer ao lançamento de Cidade para pessoas ao redor do globo.
– É algo que faço com grande alegria – ressaltou ele, que recentemente esteve na Bulgária, na Sérvia, na Bélgica e na China.
Em sua conferência, Gehl mostrará exemplos de boas iniciativas mundo a fora. Experiências que Marzulo vê como o urbanismo do amanhã: -Ainda vivemos no século passado. E as obras de hoje nortearão o futuro da cidade.

Fronteiras do Pensamento

Jan Ciehl realiza nesta segunda-feira, 21 de novembro, a última conferência do ano do ciclo Fronteiras do Pensamento. O encontro será às 19h 45min, no Salão de Atos da UFRGS (Paulo Gama, 110). Ingressos esgotados.
O Fronteiras do Pensamento Porto Alegre é apresentado por Braskem, com patrocínio Unimed Porto Alegre e parceria culturaiPUCRS.
Empresas parceiras: Liberty Seguros, CMPC Celulose Riograndense, Souto Correa, Sulgás e Stihl. Parceria institucional Hospital Mãe de Deus, Fecomércio e Unicred e apoio institucional UFCSPA, Embaixada da França e prefeitura de Porto Alegre. Universidade parceira: UFRGS. Promoção: Grupo RBS.

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