Pedidos de falências caem 16,6% no Brasil em 2018

Rodrigo Tellechea
Jornal do Comércio
08/04/2018

Ainda que a melhora da economia brasileira não seja sentida por todos os setores – e que seja pouco significativa -, as medidas que mudaram os índices de inflação e taxas de juros contribuíram para fomentar investimentos e contratações, ajudando a salvar caixas de empresas que, até há pouco tempo, estavam comprometidas. Com isso, de janeiro a abril, houve queda de 16,6% no número de pedidos de falência em todo o País. Segundo indicador da Serasa Experian, o volume foi de 417, frente a 500 requerimentos efetuados no mesmo período em 2017. No Rio Grande do Sul, o volume falências decretadas desde janeiro foi de 30, frente às 38 ocorridas nos primeiros quatro meses do ano anterior.
Do total registrado em todo o País de janeiro até abril, 223 pedidos de falência partiram de micro e pequenas empresas, 94 foram requeridos pelas médias e 100, efetuados por grandes corporações. Em contrapartida, aumentou o número de pedidos de recuperação judicial entre as empresas brasileiras, passando de 398 casos entre janeiro e abril do ano passado para 518 no primeiro quadrimestre de 2018 – um crescimento de 30%.
Nos quatro primeiros meses de 2018, as micro e pequenas empresas tiveram 342 pedidos, seguidas pelas médias (106) e pelas grandes empresas (70). O consultor financeiro Eduardo Poloni destaca que, nos últimos dois anos, o sistema financeiro manteve seu estoque de renegociação de passivos “extremamente incrementado”. “Boa parte dos empresários que chegam a esta situação busca inicialmente o prolongamento da dívida, ou entra com pedido de carência para alongamento dos prazos de pagamento. Aliás, isso virou prática comum do mercado nos últimos quatro anos, devido à crise”, informa. Essa seria uma explicação para a queda do número de falências em paralelo ao aumento do volume de pedidos de recuperação judicial, pontua Poloni.
“As empresas estão renegociando, mas, apesar disso, acredito que ainda teremos um período de ajuste grande na atividade econômica de maneira geral, que encolheu em um nível muito preocupante”, observa. Na opinião do consultor financeiro, a retomada do equilíbrio financeiro no País só deverá ocorrer daqui a dois anos (considerando que 2018 seja um ano bom), quando, segundo ele, talvez seja possível atingir um patamar razoável de atividade nos mesmos moldes que ocorria em 2013 e primeiro semestre de 2014.
Na análise interanual, os dados da Serasa Experian apontam aumento de 14,2% de requerimentos de falências em abril em relação ao mesmo mês de 2017 (121 contra 106). Já na comparação com março deste ano, o número se manteve; e na verificação mensal de abril, as micro e pequenas empresas também ficaram na frente, com 63 requerimentos; seguidas pelas médias empresas, com 24; e as grandes, com 34. O economista da Serasa Experian Luiz Rabi acredita que, ainda assim, a tendência seja de que o número de pedidos de falência continue reduzindo. “A economia começou a sair da recessão em 2017; e, neste ano, o crescimento se mantém, apesar de fraco”, justifica.
Rabi argumenta que a perspectiva de um PIB em torno de 2,5% (disseminado em todos os setores), com crescimento do crédito, deve ajudar a diminuir a insolvência das empresas. Ele ressalta que o pior já passou. “Em 2015 e 2016, o aumento de falências ocorreu de forma ininterrupta, devido à queda nas vendas e do faturamento das empresas.” O economista da Serasa pondera que, no entanto, a crise continua para alguns setores. “Alguns negócios, a exemplo do mercado imobiliário – e toda a cadeia, incluindo a construção civil -, estão com dificuldade de ver o dinheiro entrar, enquanto as despesas continuam existindo.”

Inadimplência das empresas tem alta de 8,92% em março

Contas em atraso e registro nos cadastros de devedores são situações que ainda afetam empresas em todo o Brasil. Em março, o número de pessoas jurídicas registradas como inadimplentes inflou 8,92%, na comparação com o mesmo mês do ano passado, de acordo com dados apurados pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL). O crescimento foi puxado principalmente pela Região Sudeste (com aumento de 15,26% na comparação anual). Isso acontece devido a uma maior concentração de empresas na região, observa o consultor financeiro Eduardo Poloni. Já o advogado especialista em reestruturação de empresas Rodrigo Tellechea destaca que são as pequenas e microempresas (geralmente prestadoras de serviços) que saem mais prejudicadas. “A demanda desses pequenos negócios é fomentada por empresas de maior porte, que, na crise, conseguem reduzir o portfólio e trabalhar com menor margem de lucro, ao contrário das pequenas.”
Ainda conforme os dados do SPC e da CNDL, nas demais regiões brasileiras, também houve crescimento da inadimplência em patamares menores e com tendência de desaceleração: no Sul, a alta foi de 3,56%; enquanto no Centro-Oeste, os índices registrados são de 2,35%; seguidos por Nordeste (2,33%) e Norte (1,23%).
Outro indicador é o de dívidas em atraso em nome de pessoas jurídicas. Neste caso, o crescimento foi de 7,47% na comparação anual; e o destaque, mais uma vez, foi do Sudeste, que observou variação de 14,45% no período. Na comparação mensal, na passagem de fevereiro para março, a variação positiva foi de 2,40%.
Entre os segmentos devedores, a alta mais expressiva ficou com o ramo de serviços, que apresentou crescimento de 12,64%. Em seguida aparecem o comércio (6,12%), a indústria (5,57%) e a agricultura (3,82%). Para a economista Marcela Kawauti, a inadimplência cresceu de forma acelerada nos momentos mais agudos da crise, e agora está limitada pelo cenário de escassez crédito. Já para o gestor de crise Artur Lopes, “o estrago foi democrático, atingindo a todos”. “A inadimplência pode ter aumentado, mas muitos empresários conseguem renegociar as dívidas e superar o momento”, pondera.

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