Um em cada quatro estudantes de Direito no país tem 30 anos ou mais

Eliana Baraldi

Jota

Um em cada quatro dos 850.000 estudantes de Direito no país tem 30 anos ou mais. Uma reclamação muito frequente entre os alunos desta faixa etária é a dificuldade para ingressar no mercado de trabalho numa nova carreira.

Andreia, de 36 anos, que está no 9 º semestre de Direito numa faculdade paulista, conta ter enfrentado esta situação. Até ser contratada para um estágio, ela passou por dez entrevistas diferentes. Só na décima primeira tentativa, depois de uma indicação, finalmente se tornou estagiária de um escritório.

“As pessoas deixaram claro que seria complicado conseguir um estágio devido à minha idade”, relata Andreia, que tem o sonho de trabalhar no ramo Tributário e Empresarial. “Se não fosse a indicação, acredito que estaria sem estagiar até hoje”.

Profissionais recrutadores ouvidos pela reportagem do JOTA afirmam que essa dificuldade se deve ao preconceito que o mercado tem com mais velhos, além de uma questão hierárquica peculiar do Direito.

“Nos escritórios de advocacia, há uma hierarquia que por muitas vezes está ligada à idade. Um advogado mais velho, de 30 anos, terá de responder a um júnior, de 24 anos, por exemplo. E isso pode causar problemas”, explica a advogada Eliana Baraldi, que atua na área de arbitragem do escritório Souto Correa e também tem experiência na mentoria de jovens advogados.

“Há pessoas que tem um ego muito grande e não aceitam esta situação. Não é tão fácil para alguns profissionais mais velhos acatar orientações de gestores mais jovens”, relata a advogada, que diz ter presenciado situações semelhantes em sua carreira.

Além disso, segundo a profissional, há outros fatores que são vistos como possíveis empecilhos para a contratação de profissionais mais experientes. “Pode haver uma dificuldade maior para viajar. Por isso, pode ser que tenha uma resistência dos escritórios em contratar”, conta a profissional.

Como superar esta situação
Com o preconceito e a resistência do mercado em geral, os profissionais mais velhos precisam se sobressair nas entrevistas para ingressar nos grandes escritórios.

“O mais velho precisa provar que é mais sério, que está mais focado. Isso se dá devido à idade, já que alguns mais jovens podem ter outras prioridades”, diz Baraldi.

Selma Selmikaitis, gerente de talentos do escritório Trench, Rossi e Watanabe, afirma que é importante que o recém-formado com mais de 30 anos demonstre ter experiências que os jovens ainda não têm.

“O estudante com mais de 30 anos já teve oportunidade de experimentar outra faculdade, fazer algum curso, intercâmbio ou mesmo estagiar ou trabalhar em outra área. Essa vivência anterior pode agregar maturidade, ampliar referências e com isso, ser traduzida num diferencial positivo para o candidato a estágio”, aponta Selmikaitis.

Para ela, mesmo que o profissional não tenha nenhuma experiência no Direito, “ter experimentado outras áreas pode ser uma bagagem interessante”.

“Não vejo nenhum problema em encaixar um estudante experiente na equipe, desde que fique demonstrado na entrevista que ele tenha personalidade tranquila e comprometimento”, conclui a advogada Eliana Baraldi.

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